Leitura obrigatória da Fuvest-2013, Sentimento do mundo mostra o poeta mineiro atento aos acontecimentos políticos de sua época. "Tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo", escreve ele nos célebres versos que abrem este volume. "O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,/ a vida presente", acrescenta, em "Mãos dadas".
Esse Drummond humanista lamenta que as pessoas mantenham olhos cerrados para o mundo, a ponto de permitir a violência - a Segunda Guerra Mundial e a ditadura getulista - e de trocar a compaixão pelo egoísmo de quem vive fechado em si mesmo ou em um "terraço mediocremente confortável" ("Privilégio do mar").
Tal responsabilidade coletiva se dá inclusive nos poemas em que o autor aborda temas mais pessoais, como "Revelação do subúrbio", no qual um retorno a Minas Gerais o desperta para a tristeza da noite vista pela janela do carro. A Investigação do passado aparece também em "Confidência do itabirano": é da cidade natal que o escritor afirma ter herdado o "hábito de sofrer, que tanto me diverte".
A visão de mundo sombria e pouco otimista não o impede de ser lírico nos delicados "Menino chorando na noite" e "Noturno à janela do apartamento". E ainda sobra tempo para Drummond homenagear o amigo Manuel Bandeira, num "apelo de um homem humilde" que funciona ainda como um elogio e uma reflexão sobre o fazer poético.